Nos últimos anos, o futebol feminino em Portugal tem vivido um período de desenvolvimento notável.
Esse crescimento tem sido impulsionado por uma combinação de fatores: maior visibilidade da modalidade, investimentos por parte dos clubes, sucesso da Seleção Nacional Feminina e esforços institucionais para fomentar a igualdade de género no desporto.
Com o aumento da audiência e da profissionalização do futebol feminino, surgiu também um interesse crescente por parte das casas de apostas desportivas — um setor que, até recentemente, negligenciava amplamente as competições femininas.
A crescente integração do futebol feminino no mundo das apostas desportivas em Portugal não é um fenómeno isolado, ela reflete uma tendência global em que o desporto feminino começa a ocupar um espaço mais significativo.
Tal acontece em termos de representação e audiência, mas também como oportunidade de mercado para patrocinadores, plataformas de apostas e empresas de análise de dados.
A evolução do futebol feminino em Portugal
Durante décadas, o futebol feminino enfrentou resistência cultural e estrutural em Portugal, no entanto, nas últimas duas décadas, mudanças importantes ocorreram.
Segundo dados da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), o número de jogadoras federadas mais do que duplicou entre 2012 e 2023. Em 2012, havia pouco mais de 6 mil jogadoras registadas; em 2023, esse número já ultrapassava as 17 mil.
Esse crescimento é resultado de políticas federativas, como a criação da Liga BPI, programas de base em escolas e clubes e campanhas de promoção da prática desportiva entre raparigas.
Outro fator decisivo para o aumento da visibilidade foi o desempenho da Seleção Nacional Feminina.
A equipa qualificou-se pela primeira vez para um Campeonato Europeu em 2017 e participou do Mundial de 2023, o que aumentou significativamente a cobertura mediática e o apoio do público.
Estas conquistas despertaram o interesse não apenas de novos fãs, mas também de marcas, patrocinadores e empresas do setor das apostas.
O envolvimento das casas de apostas
Com o aumento da popularidade do futebol feminino, várias casas de apostas começaram a oferecer mercados dedicados às principais competições femininas nacionais e internacionais, embora os mercados ainda sejam mais limitados do que os disponíveis para o futebol masculino, há uma tendência clara de expansão.
Recentemente, algumas dessas plataformas têm promovido bónus exclusivos para quem aposta em jogos da Liga BPI ou da Seleção Feminina, uma estratégia que demonstra interesse comercial crescente e também uma tentativa de atrair um novo perfil de apostador, incluindo mulheres e jovens adultos interessados na vertente social e inclusiva do desporto feminino.
Além disso, o aumento das transmissões televisivas e em plataformas digitais como a FPF TV e canais de streaming tem tornado mais fácil acompanhar os jogos, algo essencial para o desenvolvimento das apostas ao vivo — modalidade em que o apostador reage aos acontecimentos do jogo em tempo real.
O papel dos clubes e dos patrocinadores
O envolvimento direto dos grandes clubes portugueses — como Benfica, Sporting e Braga — também tem sido determinante para a valorização do futebol feminino.
Essas equipas investiram em infraestruturas, treinadores e na contratação de atletas internacionais, elevando o nível técnico e tático das competições.
Esses mesmos clubes atraem um número crescente de patrocinadores interessados em associar as suas marcas a causas como inclusão, diversidade e igualdade de género.
Patrocinadores como BPI, que dá nome à principal liga feminina, têm reforçado o compromisso com o desporto feminino mediante contratos de longo prazo, eventos promocionais e campanhas de comunicação voltadas para o fortalecimento feminino.
Esse ecossistema profissional mais sólido aumenta a previsibilidade dos resultados e melhora a qualidade dos dados estatísticos — elementos fundamentais para o desenvolvimento de mercados de apostas mais refinados e atrativos.
Desafios e oportunidades
Apesar dos avanços, ainda existem desafios significativos, já que o volume de apostas em jogos femininos continua muito inferior ao registado nas competições masculinas. Isso se deve a fatores como menor exposição mediática, escassez de estatísticas em tempo real e menor diversidade de mercados nas plataformas.
No entanto, isso também representa uma oportunidade de crescimento.
À medida que mais dados se tornarem disponíveis que as transmissões se profissionalizarem, será possível criar modelos de odds mais complexos, permitir apostas ao vivo com mais fluidez e aumentar a confiança dos apostadores.
A tendência de crescimento também é reforçada pelo interesse de apostadores mais jovens, que procuram experiências novas e causas com as quais se identificam.
O futebol feminino, nesse sentido, pode representar não apenas um produto desportivo, mas também um movimento social.
Perspetivas para o futuro
Tudo indica que o futebol feminino continuará a crescer em Portugal nos próximos anos, tanto dentro das quatro linhas quanto fora delas.
O envolvimento progressivo das casas de apostas é parte desse processo e poderá, se feito com responsabilidade, ajudar a financiar ainda mais o desenvolvimento da modalidade.
É fundamental, porém, garantir que esse crescimento ocorra de forma ética e sustentável, com mecanismos de proteção ao consumidor, combate ao vício em apostas e apoio contínuo ao desporto feminino como instrumento de inclusão e transformação social.
A consolidação do futebol feminino como produto de apostas pode servir como um sinal da sua legitimação definitiva no panorama desportivo português, contribuindo para sua valorização social, económica e cultural.
