A pergunta “O que significa VAR?” acaba por ser das mais procuradas atualmente, na temática do futebol, sendo que em termos gerais este é um “vídeo árbitro assistente” que ajuda nas decisões do árbitro principal num determinado jogo.
O VAR tem vindo a ganhar uma enorme preponderância no desporto mundial, sobretudo no futebol, onde a sua instituição acabou por trazer enormes benefícios para a arbitragem e lances mais difíceis de resolver.
Este sistema de apoio tem vindo a ser utilizado na maioria das competições principais de futebol um pouco por todo o mundo, sendo vital para tentar corrigir alguns dos erros mais frequentes da arbitragem na modalidade.
Funcionamento geral do sistema
O funcionamento do VAR pode parecer muito complexo para os adeptos menos familiarizados com o futebol, contudo, o sistema acaba por ser bastante simples e de fácil compreensão, mesmo para a equipa de arbitragem que está no seu manuseamento.
Através do auxílio de câmeras instaladas para o evento, a equipa de árbitros de vídeo que está num local isolado do jogo, poderá comunicar com o árbitro em campo sobre determinadas decisões, através de um sistema eletrónico.
A equipa é composto por três árbitros assistentes, que têm como função visualizar o vídeo relativo aos incidentes que estão a decorrer no jogo.
Estes três árbitros (um árbitro assistente principal, um assistente e um operador de replays), que estão situados numa sala de operações fora do estádio e onde podem coordenar a visualização de toda a ação através de vários monitores com diferentes ângulos de jogo.
Este tipo de “discussão” relativamente ao lance poderá ser iniciado pelo árbitro principal ou por indicação do árbitro de vídeo, sendo que o mesmo apenas irá ocorrer após qualquer paragem existente no jogo.
De seguida, os árbitros de vídeo poderão então analisar ao pormenor a incidência e comunicar com o árbitro principal se existe alguma decisão que deve ser tomada ou se o jogo poderá prosseguir como normal.
Em outras situações, o que poderá acontecer também é que os árbitros de vídeo podem não ter uma decisão consensual, o que faz com o que arbitro em campo possa visualizar as imagens e, dessa forma, tomar uma decisão que se torna a final.
Quando pode ser usado o VAR?
Apesar de este ser um sistema eletrónico verdadeiramente crucial em algumas decisões do jogo, a verdade é que o mesmo apenas pode ser utilizado em quatro situações muito específicas no futebol, sendo que a adição de mais iniciativas ainda continua a ser estudada.
· Golos existentes
· Cartões Vermelhos
· Penalties
· Erro na identificação de jogadores
Golos existentes
Qualquer situação que possa influenciar um golo, poderá servir para acionar o VAR, seja para fazer a validação do mesmo ou para anular.
O árbitro de vídeo poderá então verificar se existiu alguma situação excedente que acabou por privilegiar a equipa que fez golo, como por exemplo o uso da mão, um fora-de-jogo, uma falta, entre outras situações.
A tecnologia da linha de golo, apesar de ser um conceito distinto, também têm uso do VAR atualmente, sendo que através deste sistema poderá se ver se a bola passou na totalidade a linha de golo ou não.
Cartões Vermelhos
Seguindo o protocolo existente para as situações em que o VAR pode ser utilizado, o sistema também pode decidir relativamente aos cartões vermelhos.
Nesta situação, seja ela for uma agressão ou outro tipo qualquer de infração grave, o VAR pode ser acionado e chamado a intervir, sendo que o mesmo apenas terá opinião naquela que é a decisão final do árbitro principal.
Penalties
Tal como acontece nas situações referidas anteriormente, o VAR poderá ser acionado relativamente a um lance de possível pênalti existente no jogo, tendo o mesmo sido marcado previamente ou não.
Após a paragem do jogo, as equipas de arbitragem poderão conferenciar pelo sistema eletrônico e chegar a uma decisão, ou, em outros casos, o árbitro principal poderá deslocar-se ao monitor presente perto do campo, para analisar as imagens.
A decisão poderá ser assim mantida ou revertida, consoante a análise feita por ambas as partes, durante a paragem do jogo.
Erro na identificação de jogadores
Apesar de ser uma situação menos comum no que toca ao futebol, o VAR poderá ser acionado para ajudar o árbitro em campo a identificar um jogador que poderá ter cometido uma infração ou outras situações do género.
Contudo, é importante ressalvar que o sistema VAR não pode elucidar o árbitro em campo sobre possíveis cartões amarelos ou simplesmente qual a equipa que tocou na bola a última vez antes de a mesma sair.
Este tipo de decisões não possui qualquer tipo de tempo “standard”, contudo, existem competições onde já é notória uma maior eficiência na utilização do sistema.
Quando surgiu o VAR?
O VAR é uma peça preponderante para manter a igualdade no jogo, já que existem muitas decisões que podem ser tomadas ou revertidas através do uso deste sistema digital e a sua implementação acabou por não nascer no futebol.
A utilização deste assistente de vídeo já era vastamente utilizada em inúmeros desportos de forma ligeiramente diferente, como por exemplo o ténis, basquetebol, futebol americano, entre muitos outros.
Contudo, a sua utilização passou apenas a ser feita no futebol 2016, ainda que em forma de teste, para que em 2018 houvesse, finalmente, o seu lançamento oficial.
O órgão relativo à responsabilidade pelas regras de futebol da FIFA – o International Football Association Board (IFAB) – foi um dos grandes intervenientes para a aceitação deste sistema, sendo que o mesmo teve a sua primeira grande competição também em 2018.
O Campeonato do Mundo de 2018 que foi disputado na Rússia, foi assim o torneio de lançamento para o VAR, que viria a ter uma grande relevância em alguns lances mais polémicos, ajudando assim a equipa de arbitragem nas suas decisões.
A sua utilização acabou por ser estipulada ao longo do tempo a nível geral, sendo que é impossível negar a preponderância que o mesmo tem no regimento correto do jogo e na maior assertividade que tem vindo a existir na arbitragem.
Aplicação do VAR no futebol mundial
O futebol mundial começou a beneficiar da aplicação do VAR logo no primeiro jogo do Campeonato do Mundo 2018, sendo que o mesmo foi utilizado na partida de abertura entre a França e a Austrália, na altura, para a tomada de decisão de um pênalti.
Durante a partida, o árbitro uruguaio Andrés Cunha não viu uma falta existente sobre o francês Antoine Griezmann por parte do defesa australiano Ridson, algo que o VAR viria primeiro a informar e depois a corrigir.
Após a paragem do jogo, como mandam as regras de utilização do VAR, Andrés Cunha ouviu os árbitros que estavam na utilização do sistema VAR e recorreu à plataforma existente perto do campo para visualizar o lance, admitindo assim que o mesmo era faltoso.
O uruguaio viria assim a sinalizar a infração a favor dos franceses, o que originou um pênalti a seu favor e a amostragem de um cartão amarelo ao jogador faltoso, Ridson.
Este tornou-se assim o primeiro grande lance com assistência do VAR, o que acabou por ajudar a repor a veracidade no jogo e auxiliar a performance da equipa de arbitragem presente no encontro, de modo que o jogo fosse conduzido de forma credível para todos os envolvidos.
Início do VAR em Portugal
Em Portugal, o VAR começou a marcar presença na final da Taça de Portugal em 2016/2017, neste caso em forma de teste, tendo o mesmo sido considerado um sucesso e um excelente auxílio para a arbitragem e, no fundo, o jogo em si.
A Federação Portuguesa de Futebol viria então a oficializar o VAR como ferramenta de auxílio na temporada 2017/2018 em todos os jogos da Liga Portuguesa de futebol, sendo que os 306 do campeonato principal português tiveram o sistema disponível.
Numa fase inicial, na primeira temporada competitiva, o VAR acabou por ter encargos monetários por parte dos clubes presentes nesta competição, sendo que o mesmo viria a mudar na época seguinte, onde a FPF começaria a acatar esses custos.
Competições onde está implementado
Devido à enorme eficácia que este sistema apresentou logo nas primeiras temporadas, o mesmo está implementado nas melhores competições do mundo de futebol, desde a Europa até à América do Sul.
Competições internacionais de clubes de grande magnitude como a Liga dos Campeões, Taça Libertadores, Liga Europa, etc, têm este sistema adotado, sendo que o mesmo também poderá ser encontrado nas competições internas dos melhores países da modalidade.
Em termos de competições de seleções, o mesmo também é uma presença frequente neste momento, sobretudo desde a sua aceitação em 2018, no Campeonato do Mundo de futebol, que foi disputado na Rússia.
O VAR tem vindo a ser protagonista de alguns dos momentos mais marcantes do futebol atual, criando assim um sentimento de justiça que, eventualmente, poderia deixar de acontecer, se este sistema eletrónico não fosse utilizado.
Sistema usado de forma distinta em outros desportos
A contribuição do sistema de assistência virtual de arbitragem já havia sido implementada em muitos outros desportos, contudo, todos possuem ligeiras caraterísticas que os tornam bastante diferentes.
Neste artigo iremos abordar de forma mais geral algumas das modalidades mais conceituadas e onde este sistema tem vindo a ser preponderante há várias temporadas.
Basquetebol
O basquetebol possui dois sistemas ligeiramente distintos no que toca ao auxílio pelo sistema eletrônico, sendo que, para clarificar melhor as situações, iremos usar a NBA como exemplo, devido à magnitude que esta liga tem na modalidade.
Na NBA os treinadores possuem atualmente o que se chama de “Challenge”, ou seja, uma oportunidade em que podem “contestar” uma decisão da arbitragem específica e tentar que a mesma seja a favor da sua equipa, ou reverter a mesma.
Esse “Challenge” faz com que o trio de arbitragem vá ao sistema de monitor presente no pavilhão e possam interagir com o “centro de arbitragem” que existe em New Jersey, para que possam ver as imagens e tomar uma decisão final.
Contudo, existem outras situações em que este sistema pode ser utilizado sem que os mesmos tenham sido requisitados pelo treinador, sendo elas: faltas de caráter antidesportivo, questões relacionadas com o tempo de jogo e possíveis lançamentos a calcar a linha ou depois do tempo.
Ténis
O tênis é outra das modalidades que possui um sistema de ajuda virtual, neste caso chamado de “Hawk Eye” ou em português, “Olho de Falcão”.
Este tipo de ajuda recorre a quatro câmeras de alta-definição existentes no campo e que devido à sua capacidade de captar a bola a altas velocidades poderá decidir se as mesmas foram dentro ou fora do campo.
Nos grandes torneios ATP e WTA, cada tenista tem 3 oportunidades para pedir este “Challenge”, sendo que se os mesmos forem de sucesso, mantêm as suas oportunidades intactas, ao contrário do que acontece na NBA.
A primeira vez que este tipo de sistema foi utilizado data de 2006, no US Open, sendo que na maioria dos casos, todo o público poderá ver a decisão através de um ecrã gigante existente no recinto de jogo.
Futebol Americano
O futebol americano também é uma das modalidades que possui este sistema eletrónico para auxiliar a arbitragem, sobretudo num desporto onde toda a ação acontece dispersa no campo e nem sempre é fácil ver o que está a acontecer.
Cada treinador poderá utilizar dois “Challenges”, sendo que para o fazer terá de atirar uma bandeira vermelha para dentro do recinto do jogo, simbolizando assim o seu pedido perante a arbitragem em campo.
Tal como acontece no ténis, estes “Challenges” podem ser retirados se a decisão for contra o que o treinador apelou, porém, manterão os mesmos se estes acertarem.
A comunicação da decisão é feita pelo árbitro principal através do centro de comunicação do estádio, para que todas as pessoas saibam a ação que irá acontecer.
Portugal e o uso deste sistema
Portugal tem vindo a ser dos países mais progressivos em termos de utilização do VAR, tendo sido dos primeiros campeonatos profissionais do mundo de futebol a terem este sistema implementado.
Atualmente, o VAR está presente não só em todas as rondas da Liga Portuguesa de futebol, mas também a partir dos Oitavos-de-Final da Taça de Portugal e das meias-finais da Taça da Liga, as maiores competições do futebol português.
No que toca ao basquetebol, o mesmo também foi introduzido nas últimas três temporadas na Liga Portuguesa de Basquetebol, com contornos bastante distintos do futebol, mas que tem vindo a ser importante sobretudo em lances decisivos.
Por último, o ténis em Portugal apenas conta com o Estoril Open como única competição onde existe o “Hawk Eye”, já que este é, de longe, o torneio mais conceituado do calendário de ténis realizado em solo nacional.
Ferramenta essencial no futebol português
O VAR tem vindo a ser cada vez mais preconizado com uma das ferramentas cruciais para o futebol português, já que o clima de instabilidade existente em torno da arbitragem acaba por ser excessivo por parte tantos dos responsáveis dos clubes, como dos adeptos.
Assim sendo, é com naturalidade que ambas as partes venham a aceitar de forma mais tranquila as decisões tomadas pelo sistema eletrônico, já que as mesmas são clarividentes e estão a ser verdadeiramente essenciais para a justiça no futebol nacional.
Segundo os números recolhidos através do estudo realizado na temporada 2020/2021, existiram mais 165% de golos anulados devido à ajuda do VAR, uma excelente estatística, tendo em conta que em épocas anteriores, estes poderiam passar incólumes.
Os árbitros principais em campo têm vindo também a solicitar cada vez mais a opinião da equipa presente no VAR, criando assim uma maior credibilidade com a interação do sistema e a resolução de potenciais problemas.
Melhorias que podem ser feitas
Como em todos os aspetos do desporto, desde os protagonistas até à arbitragem, muitas melhorias ainda podem ser feitas, o que terá a ver com a evolução natural que o desporto terá em termos tecnológicos.
Quando falamos do VAR em Portugal, um dos aspetos a considerar é a resolução das situações de forma mais rápida, já que, apesar da tomada de decisão correta, as mesmas têm vindo a ser demoradas em comparação com outras competições europeias.
Outro dos aspetos terá também a ver com a unificação de um sistema que seja igual relativamente às linhas de fora-de-jogo, já que as mesmas possuem ligeiras discrepâncias de competição para competição, o que poderá criar alguma instabilidade.
Contudo, mesmo sem estas melhorias a serem apresentadas a curto prazo, é inegável que o VAR foi uma introdução extremamente positiva para o futebol e para a justiça do mesmo, numa altura em que cada vez somos mais assolados por escândalos na modalidade.
